sábado, 26 de abril de 2025

OS SETE PALMOS DO REI DESCONHECIDO

 

Digno de clemência é aquele que deixou de ser humano e pela desumanidade de seus atos revelou-se como escória dos infelizes. Digno de piedade é aquele que abraçado pela ilusão tornou-se cego de razão e contraditório da própria crença. Digno de complacência é aquele que se desumanizou pelo exercício do poder, apodrecendo suas entranhas e tornando-se carcaça mental de infortúnios. Digno de nossa atenção e oração é aquele que nos ignorou por estar muito ocupado com a própria ambição de significância. Digno do amor divino é aquele que se desfez de integridade e assumiu o caráter da cobra amaldiçoada que rasteja na lama os próprios delírios de grandeza. Digno de nossa compaixão é aquele que se vendeu por trinta dinheiros e não percebeu estar se enrolando na corda úmida do desespero anunciado. Digno do esquecimento de si mesmo é aquele que viveu em vão o presente dadivoso da consciência e preparou a própria cova nos confins do inferno interior. Digno do enterro da insensatez demonstrada é aquele que se perdeu de si, do mundo e de Deus e tornou-se lodo de essência. Quem já se aventurou nas águas das bem-aventuranças não precisa mais de nossa clemência, nem de nossa piedade, nem de nossa complacência, nem de nossa atenção, nem do amor, nem de nossa compaixão, nem de nosso céu e nem de nossa sensatez.


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