Digno de clemência é
aquele que deixou de ser humano e pela desumanidade de seus atos revelou-se
como escória dos infelizes. Digno de piedade é aquele que abraçado pela ilusão
tornou-se cego de razão e contraditório da própria crença. Digno de
complacência é aquele que se desumanizou pelo exercício do poder, apodrecendo
suas entranhas e tornando-se carcaça mental de infortúnios. Digno de nossa
atenção e oração é aquele que nos ignorou por estar muito ocupado com a própria
ambição de significância. Digno do amor divino é aquele que se desfez de
integridade e assumiu o caráter da cobra amaldiçoada que rasteja na lama os
próprios delírios de grandeza. Digno de nossa compaixão é aquele que se vendeu
por trinta dinheiros e não percebeu estar se enrolando na corda úmida do
desespero anunciado. Digno do esquecimento de si mesmo é aquele que viveu em
vão o presente dadivoso da consciência e preparou a própria cova nos confins do
inferno interior. Digno do enterro da insensatez demonstrada é aquele que se
perdeu de si, do mundo e de Deus e tornou-se lodo de essência. Quem já se
aventurou nas águas das bem-aventuranças não precisa mais de nossa clemência,
nem de nossa piedade, nem de nossa complacência, nem de nossa atenção, nem do
amor, nem de nossa compaixão, nem de nosso céu e nem de nossa sensatez.
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