Já não se
ouve mais a voz humana, já não se escuta mais sua busca incessante pela verdade
e pela dignidade purificada. O que se ouve é um eco, um som distorcido pela
realidade para não mais revelar essências, nem fragrâncias nem poesia. O que se
escuta é um som frio e distante do humano, ao que denominamos desumano; um som
automático e repetitivo em narrativas incontáveis e torpes. O que se ouve, sem
pressa de saber se chegou ou não onde deveria, pois o que importa é ruminar
sons ininteligíveis, são ruídos de comunicação com o próprio espelho quebrado.
Os sons que se espalham, hoje se perderam por entre suas trincas e fissuras,
justamente por não ter propósitos. A palavra foi destituída de raízes e trocou
seu conteúdo pelo contexto imaginado. Até a gramática foi vilipendiada, usada
como instrumento de demolição de opositores políticos. O certo sou eu quem
decide, dizem os desumanizados. Água mole em pedra dura tanto bate até que
some, diz a nova realidade. Era uma vez um Reino Encantado do Silêncio,
impenetrável para os acéfalos, inviolável pelos batedores de carteirinha,
inalcançável para os ruidosos de plantão.
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