Assim
como a lama sonha com Deus e recebe a flor de lotus em sua superfície, assim
também o Rio Ganges sonha com Deus. Sem se importar com a sujeira sólida que
percorre suas entranhas líquidas, o rio segue seu destino planetário. Sem se
importar com as cinzas de corpos humanos cremados na fé, o rio não perde a fé
em si mesmo. Sem interromper a multidão que o invade de rituais, o Ganges
acelera suas águas para encontrar logo a eternidade. Ele se cala diante do
paradoxo de limpar os pecados em águas tão turvas, sabedor de carregar em si as
bênçãos dos pés de Vishnu. O Ganges corre veloz como veloz corre a vida em
nossas veias, por isso este nome lhe foi dado. Só resta a ele sonhar com Deus,
diante de tantas pessoas a povoa-lo sem permissão, movidos pela história dos
deuses e pelas profecias que o mantém famoso. Tal qual uma grandiosa mãe, o
Ganges é sugado por todos os filhos que dele se aproximam, com distintas
intenções, sofrendo calado pelo que fizeram e fazem dele. O Ganges nunca foi
apenas um rio.
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