sexta-feira, 8 de maio de 2020

DEUS É O MAR



Sou mais um daqueles rios que seguem tranquilos rumo ao mar. Sigo devagar para apreciar as margens e tudo o que nela brota e habita. Vez em quando admiro as estrelas que passam, outrora como pessoas e agora como células. Quem me vê pensa que me conheceu, não sabe minha profundidade nem o que fiz de minha rasura, não sabe minhas estórias, mas os deixo inventá-las. Toquei pedras muito lisas e fui tocado pelas mãos da chuva fria, pelo bafo do sol ardente, tudo dentro da poesia. Os peixes me sentiam e por anzóis de mim saiam sem permissão do tempo eterno. Bem que a chuva me avisava ser parte do que sou, mas nela nunca acreditava. Só tinha olhos para o mar distante sem me dar conta de que ele também já estava em mim. Era rio sendo mar, queria o mar já o tendo possuído, mesmo desconfiando leve que por ele fui contido. O mar me quer rio para me tragar devagarinho e me saborear inteiro sem estardalhaço. Será que lembrarei de mim quando a ele me entregar?

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