Sou mais um daqueles rios que seguem
tranquilos rumo ao mar. Sigo devagar para apreciar as margens e tudo o que nela
brota e habita. Vez em quando admiro as estrelas que passam, outrora como
pessoas e agora como células. Quem me vê pensa que me conheceu, não sabe minha
profundidade nem o que fiz de minha rasura, não sabe minhas estórias, mas os
deixo inventá-las. Toquei pedras muito lisas e fui tocado pelas mãos da chuva
fria, pelo bafo do sol ardente, tudo dentro da poesia. Os peixes me sentiam e
por anzóis de mim saiam sem permissão do tempo eterno. Bem que a chuva me
avisava ser parte do que sou, mas nela nunca acreditava. Só tinha olhos para o
mar distante sem me dar conta de que ele também já estava em mim. Era rio sendo
mar, queria o mar já o tendo possuído, mesmo desconfiando leve que por ele fui
contido. O mar me quer rio para me tragar devagarinho e me saborear inteiro sem
estardalhaço. Será que lembrarei de mim quando a ele me entregar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário