quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A ARTE DE DESAPARECER


Viver numa sociedade hiper conectada cria as suas impossibilidades de fuga. Mesmo que você queira sumir vivo, vai sempre deixar rastros que o localizem mais tarde. Faça um pequeno exercício sobre o que você deveria fazer se quisesse sumir de seus contatos.

Ao precisar de dinheiro, o caixa eletrônico registra de onde você está fazendo a transação financeira. Ao andar pelas ruas movimentadas da cidade grande ou ao entrar em lojas você pode ser registrado pelas câmeras de segurança. Ao caminhar pelas ruas de uma cidadezinha você chama muito a atenção e é visto por toda a população que o identifica como estranho. Ao usar transporte coletivo você deve preencher algum formulário. Ao fazer certas coisas é necessário apresentar documentos. Ao alugar um imóvel você precisa de documentos e provas de renda. O corpo está sempre precisando de um remédio ou de um médico e você precisa mostrar seus documentos. Ao usar a internet para se comunicar com alguém, se a polícia estiver procurando por si ela saberá identificar o IP do computador utilizado. Ao fazer uma cirurgia plástica de mudança de rosto terá que arranjar todos os documentos com comprovação a partir de sua impressão digital. Se deixar os cabelos e a barba crescerem muito, vai atrair mais suspeitas sobre sua identidade. Se entrar para alguma instituição religiosa terá que deixar telefones de contato. Se sumir de repente, cada instituição social ficará de olho em suas movimentações. Para conseguir qualquer trabalho de subsistência terá que se identificar ou levantará suspeitas que podem atrair polícia. Ao dirigir um automóvel corre o risco de ser parado pelos guardas rodoviários.

Viu só? Se correr o bicho pega, se esconder o bicho acha. Somos todos anônimos, vigiados numa sociedade policial. Assim como não existe crime perfeito, assim também não existe fuga perfeita. Talvez seja por isso que tantas pessoas vivem se escondendo de si mesmas.




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