sexta-feira, 11 de julho de 2014

ESQUECIMENTO DO CORAÇÃO


Há uma fase importante no processo do Despertar em que se questiona a    própria evolução e suas contradições e/ou o dualismo que a mente nos impõe sempre que possível para atrasar nosso desenvolvimento. São dois direcionamentos diferentes, orientados pelo grau de atividade mental. Muita atividade mental, mais questionamentos. Muita aceitação, mais clareza e confiança. Tanto os questionamentos quanto a aceitação são reveladores do lugar aonde estamos no momento do processo. Sente-se aqui neste lugar novamente, graças ao grito de socorro preso na garganta.

Penso que podemos estabelecer nossa vida sobre três pilares de crescimento. O primeiro é a terra, a base, o centramento, o coração que nos unifica com a essência e dá qualidade de vida à nossa existência momentânea. É neste pilar que abrimos ou fechamos portas da paixão pela vida, portas que podem nos conduzir a níveis mais elevados do Ser e nos deixam repousar no amor.

O segundo pilar é a identidade, a individualidade, o nome e suas crenças, a mente, o ego, o território de sobrevivência terrena ou mundana, o que podemos chamar carinhosamente de inferno. É neste pilar que questionamos, somos buscadores insaciáveis, acreditamos e queremos conhecer a verdade, temos excesso de referências e tendemos à comparação, apoiando-nos apenas no conhecimento e nas percepções individuais que podem ou não serem distorcidas.

O terceiro é a espiritualidade, o paraíso, o ideal de divindade fora de nós alimentando a possibilidade intelectual do amor incondicional, um lugar de  perfeição que não existe no mundo, um espaço de aceitação onde a unidade é natural e nos fascina pelas promessas de leite e mel, o nosso pedaço de eternidade e de céu. Mesmo sendo espiritual e porto seguro nas horas de perigo, este espaço ainda consegue ser fragilizado se usado em demasia.

Viver é dançar sobre estes três pilares. Ora florescemos o coração, ora questionamos a caminhada, ora saltamos alegres no colo do espírito. Faz parte da vida esta oscilação constante de instabilidade, pois a vida se sustenta apenas pelo movimento e pela mudança. O que vai determinar quanto “tempo” ficaremos sobre cada pilar será nosso nível temporário de consciência. Se for mental e humano, passaremos mais tempo no segundo pilar. Se for emocional e incompleto, no terceiro pilar. Se for consciente e divino, passaremos mais “tempo” no coração.

Foi justamente por não ter entendido a importância do retorno ao coração que aqui escrevi um artigo sobre questionamentos. Foi justamente por ter me afastado do coração que passei grande parte do processo buscando o despertar e a iluminação, buscando ser atendido em todos os meus desejos que acabaram se revelando mundanos e egóicos. Quem muito questiona está incompleto e sedento de Deus, mas não sabe que Ele está dentro do coração e não fora de nós, e acaba buscando-0 no céu conceitual. Neste descuido, a mente chega de mansinho e faz o seu barulho tão ensurdecedor que até nos faz esquecer do amor, da humildade, da pureza, da criança que mora no coração aberto, do verdadeiro endereço do paraíso que é o altar de Antharyamin no coração amoroso das pessoas. Eu não quero mais nem o céu nem o inferno nem o querer. Eu já tenho o coração, eu já sou o amor, basta recordar e nele repousar para se dissolver na aceitação. Consciente ou não, serei sempre espelho para o mundo e o mundo será sempre espelho para o meu crescimento. Nós precisamos um do outro para nos esquecermos completamente e apagarmos a ilusão da individualidade. Só o coração nos oferece esta possibilidade dentro do amor que é divino. Só o coração é real.


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