Há uma fase importante no processo do Despertar em que
se questiona a própria evolução e suas
contradições e/ou o dualismo que a mente nos impõe sempre que possível para
atrasar nosso desenvolvimento. São dois direcionamentos diferentes, orientados
pelo grau de atividade mental. Muita atividade mental, mais questionamentos.
Muita aceitação, mais clareza e confiança. Tanto os questionamentos quanto a
aceitação são reveladores do lugar aonde estamos no momento do processo.
Sente-se aqui neste lugar novamente, graças ao grito de socorro preso na garganta.
Penso que podemos estabelecer nossa vida sobre três
pilares de crescimento. O primeiro é a terra, a base, o centramento, o coração
que nos unifica com a essência e dá qualidade de vida à nossa existência momentânea.
É neste pilar que abrimos ou fechamos portas da paixão pela vida, portas que
podem nos conduzir a níveis mais elevados do Ser e nos deixam repousar no amor.
O segundo pilar é a identidade, a individualidade, o
nome e suas crenças, a mente, o ego, o território de sobrevivência terrena ou
mundana, o que podemos chamar carinhosamente de inferno. É neste pilar que
questionamos, somos buscadores insaciáveis, acreditamos e queremos conhecer a
verdade, temos excesso de referências e tendemos à comparação, apoiando-nos
apenas no conhecimento e nas percepções individuais que podem ou não serem
distorcidas.
O terceiro é a espiritualidade, o paraíso, o ideal de
divindade fora de nós alimentando a possibilidade intelectual do amor
incondicional, um lugar de perfeição que
não existe no mundo, um espaço de aceitação onde a unidade é natural e nos
fascina pelas promessas de leite e mel, o nosso pedaço de eternidade e de céu.
Mesmo sendo espiritual e porto seguro nas horas de perigo, este espaço ainda
consegue ser fragilizado se usado em demasia.
Viver é dançar sobre estes três pilares. Ora
florescemos o coração, ora questionamos a caminhada, ora saltamos alegres no
colo do espírito. Faz parte da vida esta oscilação constante de instabilidade,
pois a vida se sustenta apenas pelo movimento e pela mudança. O que vai
determinar quanto “tempo” ficaremos sobre cada pilar será nosso nível
temporário de consciência. Se for mental e humano, passaremos mais tempo no
segundo pilar. Se for emocional e incompleto, no terceiro pilar. Se for
consciente e divino, passaremos mais “tempo” no coração.
Foi justamente por não ter entendido a importância do
retorno ao coração que aqui escrevi um artigo sobre questionamentos. Foi
justamente por ter me afastado do coração que passei grande parte do processo
buscando o despertar e a iluminação, buscando ser atendido em todos os meus
desejos que acabaram se revelando mundanos e egóicos. Quem muito questiona está
incompleto e sedento de Deus, mas não sabe que Ele está dentro do coração e não
fora de nós, e acaba buscando-0 no céu conceitual. Neste descuido, a mente
chega de mansinho e faz o seu barulho tão ensurdecedor que até nos faz esquecer
do amor, da humildade, da pureza, da criança que mora no coração aberto, do
verdadeiro endereço do paraíso que é o altar de Antharyamin no coração amoroso
das pessoas. Eu não quero mais nem o céu nem o inferno nem o querer. Eu já
tenho o coração, eu já sou o amor, basta recordar e nele repousar para se
dissolver na aceitação. Consciente ou não, serei sempre espelho para o mundo e
o mundo será sempre espelho para o meu crescimento. Nós precisamos um do outro
para nos esquecermos completamente e apagarmos a ilusão da individualidade. Só
o coração nos oferece esta possibilidade dentro do amor que é divino. Só o
coração é real.
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