terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O QUE EU NÃO ENTENDI DE VOCÊ

Palavras são símbolos, contidos no território vasto da metalinguagem. Da mesma forma que é difícil conhecer o nome e a função de todas as plantas numa floresta, assim também torna-se difícil captar com excelência o significado e a intenção oculta das palavras das pessoas. Parece complicado traduzir as complexidades, parece simples reduzir as redundâncias.

Tradução é uma arte para poucos. Clareza é risco raro de bordado na fala. Dúvida é tendência mental. Quanto mais palavras ouvimos, mais nos afastamos delas na busca ausente dos acordos e apertos de mãos. Quanto mais palavras traduzimos, mais janelas abrimos no hotel que abriga os diálogos e os monólogos, sem poder fechá-las na hora certa. Tradução é trabalho sem paga, sem valia, por causa das imperfeições da limitação humana. Tradução é capinação gramatical e filosófica.

Contaram-me, certa hora, da existência de um país abstrato onde as palavras não prosperam, não encantam quem não canta, não existem pontos finais. Nele toca constantemente uma canção de brisa, feita com a melodia das estrelas mais fugazes, enfeitada com o carmim dos sorrisos, moldada pelas mãos mais singelas da avó do tempo, que canta com doçura um Tum-tum interior. Nele a espera é suave, sem ansiedades, sem precipitação, sem rancores. Nele a fotografia é indelével. Nele ainda há chance de abraçar o instante antes que ele se vá para sempre. O que eu não entendi de você ficou guardado, a sete chaves, nos contornos deste país abstrato.

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