Onde eu moro nasceu uma plantação de prédios altos, em um parque lindo e demorado de atravessar. Da janela meu olhar alcança duas cidades, mas nunca andei nelas. Trago paixão por lonjuras e assim as quero. O que permanece distante não me perturba, ao contrário, me devaneia. Deixa-me explicar. Paixão não é amor, é puxadinho dele. Paixão é viver uma impossibilidade, daquelas que só os amantes entendem. Paixão é excesso de autoconfiança e preferência por riscos. Já o amor, esse gosta mesmo é da realidade do encontro renovado, gosta e necessita do toque monitorado pelo ciúme, gosta de crescer raízes em endereço fixo, gosta das falas diretas e apressadas. Se não for para viver as possibilidades, o amor não serve. O amor se organiza em estruturas, instituições, códigos morais, contratos de fidelidade, aliança familiar, acordos comuns e promessas para toda a vida. O amor é cristão. A paixão é livre, desprendida de rotina, silenciosa e discreta, alimentada pela espera para se fazer de importante. A paixão é pagã.
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