Hoje combatemos em
público e nos outros o que um dia nos serviu de salvação. Somos contraditórios,
incongruentes, injustos, volúveis. Gostamos de defender o abstrato, as imagens
de nós que tentamos projetar no mundo. Sabemos que ninguém é totalmente o que
aparenta ser e por isso permitimos o teatro, a farsa, o jogo, os testes, a
mágica. Ao cansarmos de um certo público, passamos a desconstruir pessoas e
expectativas sobre elas, planos e sonhos, crenças e valores. Como não
suportamos o vazio criado, precisamos preenchê-lo com qualquer coisa que nos
reanime e nos faça sentir bons, especiais, úteis, espertos, pois não há tempo a
perder. O tempo passa, o tempo muda, mudamos nós também, sem ao menos perceber
que, inconscientemente, cumprimos os personagens que nos couberam na
representação coletiva da vida humana, onde todos estamos interligados por
propósitos invisíveis de algo que não sabemos ainda desconstruir. Se
soubéssemos, o faria.
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