Há dias em que você tece o tempo com pensamentos
estranhos ao seu modo costumeiro de pensar, desfazendo-se momentaneamente de
suas crenças, desistindo de ser quem é ou de estar aqui no mundo? Este estado
de descrença não é depressão.
É o relaxamento das defesas pessoais e emocionais
que causam tanta tensão sem ser notada.
Naquele momento você é como um trapezista de circo
que não se importa mais se cair lá do alto, diante de um público estupefato,
mas continua suas acrobacias de olhos fechados como se fosse a última vez.
A sensação de fazer algo pela última vez é
fascinante como uma golfada de liberdade rasgando sua artéria principal. Só
você sabe o que lhe corroeu o sol.
O mundo é egoísta demais para perceber a tênue
linha de vida em seu espírito cansado.
Quando você termina o ato derradeiro e abre os
olhos, descobre que nasceu de novo em algum lugar do Ser.
E vomita o mundo garganta afora, tombando de
desprezo pela morte.
Benedito José
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