Em situações de debate
intenso e polêmicas públicas, apresentamos sempre a tendência de omitirmos algo
ou de fugirmos da essência em nome da opinião e da teimosia. São duas posturas
naturais para o ato de pensar sob o domínio mental. Como agiria uma mente
desperta diante de polêmicas?
Omitir significa não
querer ver tudo, não querer se manifestar com medo de derrotas, não querer se
expor ao ridículo, não querer revelar suas próprias misérias, não querer agir
com liderança nem tomar a frente das discussões. Omitir é, por si mesma, uma
postura de” vamos deixar como é que está para vermos como é que fica”. Algo
semelhante à postura” eu não tenho nada a ver com isso”.
Fugir da essência
significa abrir ou rasgar o verbo, colocar a outra pessoa na parede, enfrentar
a emoção do contexto para desestabilizar o outro, denunciar a limitação do
outro, jogar lenha no calor das palavras para fervilhar a discussão. Fugir da
essência é se afundar na areia movediça das ideias que nunca se bastam. Fugir
da essência é dar vida ao ego, inflar o ego, querer estar certo, matar na raiz
a possibilidade de crescer em consciência, pois a própria verdade que se impor
sobre os demais. Portanto, discutir com emoção é fugir sim da essência como se
foge do sofrimento de perder a briga.
Se estar desperto é
aceitar a realidade e o sofrimento que se manifesta interiormente, sem se
deixar prender pelas palavras, ou se estar desperto é conviver com as surpresas
da vida sem aumentar seu tamanho real, sem se tornar vegetal, então um ser
desperto riria das discussões externas, com amor no coração para aceitar a
limitação do outro e com lucidez e sabedoria na mente para vislumbrar a verdade
de cada momento. Um ser desperto olharia para o momento seguinte sem se apegar
ao que passou, consciente de que a vida está acontecendo e não pode ser
desperdiçada pois é muito sagrada. Ao perceber a falta de consciência nas
pessoas, ela se posicionaria pronta para trabalhar para o bem comum, com ações
divinas, com palavras perfumadas, com doçura de alma, com silêncios gritantes
de paixão pelo instante. Prefiro seguir este caminho até que um dia eu
desperte. Prefiro virar as páginas da vida com a ternura de uma criança que lê
seu primeiro livro.
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