terça-feira, 19 de abril de 2011

O MUNDO DAS ILUSÕES

A vida da gente é cheia de ilusões. Somos hipnotizados constantemente por elas, através dos pensamentos que nos chegam sem pedir licensa. São ilusões de ter e fazer, expressando a força não questionada das vontades. Existe, porém, uma ilusão mais específica que hipnotiza a todos sem excessão. É a ilusão do saber. Não importa a idade.

A criança acha que já sabe tudo; até mesmo quando ela nos pergunta algo, recebe a resposta e nos diz "eu sabo" . Sabem mexer no computador, escolher as roupas e influenciar os pais. Sabem manipular os adultos para conseguir o que querem ao testar seus limites. Não sabem que não sabem, mas querem sempre aprender. Não sabem que seu cérebro ainda está crescendo para poder lidar com as complexidades do mundo adulto, mas dizem que sabem tudo.

O adolescente também pensa assim pois acha que está mais informado do que os outros. Acredita que compreende mas não é compreendido por ninguém. Pensa que é o melhor em tudo e se esquece de que existe, pelo menos, mais cinco bilhões de pessoas no planeta. Acha que sabe e pode quebrar todas as regras inconsequentemente e sair por cima. Muitas vezes se esquece de que não é imune ao poder destruidor das drogas e outros vícios.

Já o adulto "tem certeza" de que sabe tudo, o que o isenta de saber mais e aprender novas coisas. Acha que viu e viveu muito, por isso tem que ser ouvido e atendido. Sabe mais do que o técnico, o juiz e os jogadores. Sabe mais do que o governador, o senador e o presidente. Sabe mais do que os filhos, os amigos e o patrão. O adulto é a expressão máxima da ilusão do saber, pois também não sabe o quanto sabe.

Grande ilusão do ser humano é achar que já está pronto para o mundo, e, se algo der errado, a culpa é sempre dos outros que não sabem o que ele sabe. Se algo não aconteceu como queria é porque o mundo não o consultou antes. O que não deixa de fora a possibilidade de matar a humildade, a qual muitas vezes engrandece a verdadeira sabedoria.

A sensação de estarmos prontos para o mundo é uma viseira que bloqueia a realidade. Mal chega a surpresa e parece que o mundo caiu de forma desagradável. Pode ser traição, doença ou morte. Pode ser demissão, gravidez ou perdas materiais. Bastou estar desalinhado com a nossa ilusão e a vida parece ruir de significado e força. A razão fica bêbada e a fé, contundida. A máquina dos recursos parece perdida para sempre.

Não fosse a inteligência, a ilusão poderia ser menor. É que ela só é capaz de perceber, pois tudo quer provar e se esquece de que há outras pessoas tentando provar o contrário. Conhecimento demais não é inteligência, ainda mais se você não souber o que fazer com ele. Da mesma forma, conhecimento não pode ver a  verdade, apenas a consciência pode.

Descobri, um dia, que poderia remover os filtros de percepção e maravilhar-me com a contemplação da realidade. Sem julgamento, sem criticismo. Pura aceitação. Descobri também que estamos dentro de um processo de transformação irreversível. Você está sempre prestes a se tornar algo na profissão, no relacionamento e no pensamento. O mundo não pára. A vida também não. Se parar de vez, você morrerá por falta de função. É simples. A Terra se move. A célula se move. O cosmos se move. Tudo faz parte deste processo contínuo de se tornar algo a qualquer momento. Você também.

Precisamos aprender a contemplar mais, deixando o olhar silenciado na beleza de todas as coisa. Olhar as coisas simplesmente, aceitando-as como sâo, sem interferir, sem causar sofrimento diante da resistência teimosa e cega. Olhar com amor de mãe, com olhar de gato ou de bicho-preguiça. Isso mesmo. Ter preguiça de julgar e condenar. Fluir mais. Virar rio.

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