quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ELEMENTO SURPRESA



Se estamos coletivamente perdendo a capacidade de surpreender uns aos outros, é porque estamos perdendo a criatividade, estamos nos tornando seres pasteurizados e repetitivos. Tanto no relacionamento entre duas pessoas quanto no coletivo, um dos fatores que mais alimentam a união ou interesse mútuo é a imprevisibilidade. Quanto tudo se torna rotineiro e apático, tudo perde a graça e a conexão. Quando você sabe até as palavras que o outro vai usar, a mesma desculpa amarela, o mesmo olhar desviado, a mesma mentira de sempre, a mesma comida, a mesma briga, a mesma estória do passado, é sinal de que algo morreu. É fim de vela queimando. É esperança adoecida. É expiração prolongada.

Há que se surpreender mais, cultivar gentilezas, romantizar o ameno, mudar os móveis de lugar, cantar outras canções, ler outros livros, fazer novas amizades, aprender um idioma, conhecer o mundo, comprar presentes para a amada, contemplar as estrelas, tomar aulas de dança, escrever uma carta para o seu eu do futuro, cuidar da natureza, dizer obrigado aos seus pais, trocar o quadro da sala, andar descalço. Quem sabe assim nos renovamos e paramos de caminhar descuidados.

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