Ser Pai é ser ponte
entre o filho e o mundo, entre a emoção genealógica e a razão coletiva, entre o
filho indefinido e a mãe que o aceitou. Ser pai é estabelecer vínculos, é
interceder pela firmeza de ações, é criar laços fortes com a crença, é
perpetuar experiências. A ponte existe para possibilitar conexões. O pai existe
para atender aos pedidos de conexão familiar, por isso tem filho que pisa nos
pais e tem pai que balança o caminho dos filhos. Para o pai é mais fácil o
desapego, a separação, a constituição de uma nova ponte com outra pessoa, pois
como tal ele parte em busca de sua função pois ele só se vê como ponte.
A partir do momento em
que a conexão com filhos ou esposa é interrompida, ele procura a saída
naturalmente, pois ao ser ponte o pai tende sempre a não olhar para si mesmo e
a buscar a força e o poder da ação que o faça se sentir pai. O melhor pai do
mundo é aquele que ensina o filho a sonhar equipando-o para manifestar seu
sonho, só assim ele protege verdadeiramente a identidade dos filhos. O melhor
pai do mundo é aquele que soube proteger mais a família do que o mundo. Ele
sabe que o seu filho é como um vaso de porcelana, depois de quebrado e colado
já não é inteiro como o desejou. Ele sabe que o filho não lhe pertence e trata
de fortalecê-lo para as batalhas da sobrevivência, espalhando as sementes da
preservação, atuando assim como um semeador. A terra que o recebe – os filhos –
não compreendem a força com que ele os toca e remexe nas profundezas da raiz, a
força com que os enxerta de responsabilidade e de propósitos corretos
vivenciados, a força com que os larga ao relento das horas sob o relento do
destino, esperando que eles se encontrem e cresçam por si mesmos.
O pai é ponte, é
semeador, é espera de colheita abundante, por isso torna-se frágil diante do
tempo e das intempéries que não estão ao seu alcance. Ser pai é ser ponte para
que os pesos atravessem sobre si, para que o tempo caminhe sobre si, para que
um dia possa ser esquecido na estrada do mundo sem prejudicar as conexões que
os filhos aprenderam a fazer com o próprio mundo.
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