Nunca ouvi falar da existência de uma civilização
brasileira. Nós não temos uma visão coletiva, não nos movemos como um só bando
de aves com um objetivo comum e respeitando as lideranças. Nós não geramos
pensamentos, apenas os desconstruímos com a força cega das opiniões. Nós nunca
valorizamos nossos talentos e riquezas nem nossa inteligência individual na
hora de materializarmos recursos para nossas necessidades. Nossa cultura não é
brasileira, ainda é a portuguesa, entregando de bandeja nossos recursos
valiosos, nossa autonomia, nosso futuro. Damos aos filhos nomes americanos,
vestimos a moda estrangeira, montamos a casa com produtos da China, na justiça
aplicamos o Direito Civil Romano, nas ciências humanas importamos toda a Europa
de uma só vez. Somos uma cultura com péssimos hábitos de leitura e, por não
lermos tanto, pouco pensamos e nos deixamos ser facilmente pensados e
explorados ao trocarmos o discernimento pelo julgamento. Nós não temos uma
ideologia política nacional, não temos teorias econômicas voltadas para o
mercado brasileiro, não temos o carro brasileiro, não valorizamos pesquisas nem
sustentabilidade, pois mal temos o cidadão brasileiro. Tornamo-nos
inconsequentes com nosso destino. Um sistema político-econômico mundial que
destrói a natureza pelo lucro, envia-nos a mensagem de que devemos também
destruirmos uns aos outros para perder nossa integridade e sermos reduzidos a
números. Por isso fica tão fácil nos perder em consumismo, em escolhas
políticas erradas e na psicologia da falta. Se mais de duzentos milhões de
brasileiros desunidos não conseguem resolver seus problemas básicos e
estruturais, é sinal de alerta para que mudemos nosso nível de consciência se
quisermos construir um novo Brasil. Precisamos prestar mais atenção e dar mais
cuidado às dinâmicas de relacionamento entre as pessoas. Precisamos reformular
nosso sistema político presidencialista para que atenda aos interesses
brasileiros ou então abandonarmos nossa dependência de governos para formar
grupos comunitários com iniciativas que transformem nossa realidade para
melhor. Termino este artigo lembrando as palavras fatídicas de Tancredo Neves:
“Nós não vamos nos dispersar”.
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