A atriz termina o espetáculo de teatro. O
conteúdo foi recolhido em partes pela audiência, arquivado em gavetas da memória,
semeados nos terrenos da mente pensante, criticado ou anulado pelos ignorantes.
A atriz nunca deixou de ser ela mesma durante a apresentação, as duas
permanecendo no palco, pessoa e personagem. A representada ganhou tanta vida
provisória que achou ser real ao apoderar-se do corpo da atriz. Agora eram três
no palco, o corpo da pessoa, o corpo da atriz e o corpo da personagem. O
público, cada vez mais encantado e emaranhado nas tramas, foi se vendo e se
multiplicando no palco, povoando o teatro com seus condicionamentos, crenças,
desejos ocultos, vozes caladas, sonhos destruídos, memórias adoráveis, lágrimas
reais, filtros anestesiados e movimentos inquietos a ponto de exigir um final
feliz. Calados e perplexos, todos saíram do teatro flutuando e sentindo o chão
a alguns centímetros dos pés. Quando chegaram em suas casas, fizeram como faz a
atriz quando termina o espetáculo. Penduraram-se nos cabides.
Nenhum comentário:
Postar um comentário