domingo, 19 de abril de 2020

O JOGO INTELIGENTE



Cada respiração é tão definitiva, cada momento tão precioso e único, tão imenso em sua fragilidade que a gente até se esquece de que estamos vivos ou porque estamos. É uma raridade nos darmos conta de que estamos jogando fora tantos tesouros em troca de ilusões, discursos murchos, corações vazios, estatísticas manipuláveis, distanciamentos emocionais, promessas enganadoras, planos descoloridos, preocupações intoxicadas, buscas incessantes, distrações ácidas, julgamentos dramáticos, poemas intolerantes e horas perdidas ao relento. Quem luta contra a vida, a perde. Quem a respira, flui acima do tempo e do espaço. O cisco e os gravetos, a areia e a semente, as pequenas coisas são maiores do que nossa capacidade de abraçar a parte que nos cabe, maiores do que nossa solidão diante de tudo o que achamos precisar. Quanto mais a gente tem, mais a gente precisa sair de si pra cuidar de coisas que não necessitam de nossa respiração. Às vezes, ganhar é perder. Só a percepção de cada respiração revela se estamos ganhando ou perdendo o jogo da existência.


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