Pelo direito de ser
cidadão, cobram-lhe o imposto. Pelo direito de ser brasileiro, tiram-lhe o
chão. Pelo direito de pertencer, atribuem-lhe uma família. Pelo direito de
estar vivo, roubam-lhe a esperança. Nada é de ninguém. Nada é para sempre. Nada
é lógico. Estar vivo é estar praticando a morte em conta gotas. Morrer é matar
os que ficam. No meio de tantas contradições, ninguém sabe porque viveu o que
viveu. São tantas equações sem valia, tantas palavras jogadas fora de contexto,
tantas explicações infundadas que até o inexistente ganha ares de bonito. É
preciso pintar de cores a realidade. É preciso fingir que está tudo certo. É
preciso garantir terrenos no céu para os desalojados e esquecidos. É preciso
recomeçar o que nunca teve propósito, assim se constrói o amanhã. Se alguém
puder explicar a existência sem traços de confusão ou niilismo, faça-o agora ou
cale-se para sempre.