sexta-feira, 10 de julho de 2020

FORMIGAS GIGANTES



Somos seres minúsculos. Somos seres tão ciscos, tão poeiras, tão átomos e mais somos diminuídos diante da omissão, diante das ausências e abandonos. Diante de cada esquecimento dos menos favorecidos, nós nos tornamos menos e menores. Aos poucos nos encolhemos de tanto egoísmo, de tanta indiferença, sem notar que se volta contra nós aquilo que pelos outros expressamos. Compactos e compactados dentro de uma caixa protetora, erguemos muros e catalogamos pessoas, vestimos armaduras e ficamos invisíveis, tornando-nos menores do que o óvulo que nos gerou. Inseguros por natureza, nos damos em doses homeopáticas ao mundo que nos cerca, sob a crença de que já doamos demais. Quanto mais nos dissolvemos diante dos holofotes da aparência, mais imperceptível se apresenta nossa essência, mais diminuta nossa integridade. Buscamos tanto a significância justamente por sermos insignificantes e isso nos dói cada vez que damos de cara com nossas limitações. Não é atoa que chamamos de heróis até os bandidos e corruptos, pois diante de nossa pequenez precisamos pegar carona nas vitórias distorcidas dos outros para a eles pertencer. Somos seres minúsculos de coração microscópico e olhares reduzidos a nada. Temos vocação para formiga.

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