Entre o discurso e a coerência crescem arbustos de ignorância. Falar sem saber o que se entrega ou de como suas palavras chegam ao ouvinte, nada tem de sabedoria. A língua só quer saber de dançar e a boca só se importa com o som disfuncional dos lábios. Falam-se abobrinhas, divergem-se as vírgulas, constroem-se distâncias, tudo para que a pessoa se sinta notada. Repetem-se notícias, esquecem-se de quantas mil vezes deu asas àquela reclamação, ausentam-se soluções, tudo para que o discurso desabafe o incompreendido. O tempo de cada um é desrespeitado cada vez que o discurso resvala na ausência de si mesmo. A experiência vira ficção sem aviso prévio. Duas vidas matam porções de tempo, seguem incompletas seus descaminhos até o próximo encontro, sem se darem conta do desencontro recente. Entre encontros e despedidas, crescem ramas no rosto de quem vê a vida como uma contação de estorinhas.
segunda-feira, 9 de março de 2020
ENTRE O DISCURSO E A COERÊNCIA
Entre o discurso e a coerência crescem arbustos de ignorância. Falar sem saber o que se entrega ou de como suas palavras chegam ao ouvinte, nada tem de sabedoria. A língua só quer saber de dançar e a boca só se importa com o som disfuncional dos lábios. Falam-se abobrinhas, divergem-se as vírgulas, constroem-se distâncias, tudo para que a pessoa se sinta notada. Repetem-se notícias, esquecem-se de quantas mil vezes deu asas àquela reclamação, ausentam-se soluções, tudo para que o discurso desabafe o incompreendido. O tempo de cada um é desrespeitado cada vez que o discurso resvala na ausência de si mesmo. A experiência vira ficção sem aviso prévio. Duas vidas matam porções de tempo, seguem incompletas seus descaminhos até o próximo encontro, sem se darem conta do desencontro recente. Entre encontros e despedidas, crescem ramas no rosto de quem vê a vida como uma contação de estorinhas.
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