Já sabemos que o ego é um aparelhamento mental constituído unicamente
para garantir a nossa sobrevivência no mundo material. Muito embora ele, as
vezes, também se vista de aura espiritual para continuar exercendo poder sobre
nosso destino e sobre as outras pessoas, ele pouco sabe sobre a verdadeira vida
espiritual e sobre o reino da consciência.
Desta forma, ele acaba criando em nós a necessidade de
sermos protegidos por uma força real, uma força divina, quando as coisas não
vão nada bem para o nosso lado. O ego tenta de tudo e de todas as formas, e fracassa,
tratando logo de nos desviar a atenção para outros conflitos. Quanto mais ele
tenta, mais nos enrolamos na trama complicada da razão, mais perdidos nós nos
sentimos diante das frustrações diárias e dos sonhos mortos.
Acontece, porém, que pouco sabemos sobre a mente universal
encarregada de nos cobrir com o manto da prosperidade. Pedimos socorro, pedimos
ajuda, pedimos esclarecimentos, mas só temos o ego e a razão para traduzir a
ajuda esperada. Como a vida escreve certo por linhas tortas, nem sempre
traduzimos corretamente os eventos que são desencadeados por ela após nossas
experiências desastradas.
A força vital opera no reino da consciência onde há
propósitos invisíveis, maiores do que a necessidade momentânea; propósitos da
alma que se alinham e fazem mais sentido apenas no âmbito da eternidade.
Falta-nos esta visão panorâmica dos propósitos cósmicos para nossa
individualidade e para o coletivo.
Resta então o silêncio intencional para o exercício de
observação dos pensamentos e de suas desventuras. É o silêncio interior quem
sabe desatar os nós criados pelo ego. É o silêncio interior quem vai abrir as
portas para a prosperidade fluir em nosso coração através da lucidez que vem da
aceitação de tudo o que for colocado em nosso caminho, entendendo ou não seus
propósitos coletivos.
A consciência não necessita atos de sobrevivência, não
necessita racionalizar os eventos e circunstâncias, não necessita de diálogos
internos. A chuva cai depois de observar e ouvir o estrondo solitário do
silêncio e depois de ver a trama dos raios se partir em gotas perdidas no
firmamento. A consciência traz a graça depois que a mente se cala. Aí é chuva
de bênçãos e de prosperidade.