Quando a gente se envolve com alguém, a gente fica meio abobado, vira
abóbora sem carruagem. A gente se comove com tudo que vem daquela pessoa como
se despertasse em nós alguma sensibilidade à compaixão. O envolvimento é meia
entrega, metade do doar-se, é derreter-se sem ser gelo. Envolver é mover mundos
e fundos para não perder uma emoção, é comprometer-se sem contrato assinado, é
se deixar levar pela correnteza da promessa cega em nome de uma boa causa.
Quando a gente se comove, foi o amor que passou de raspão no coração da gente,
feito um orvalho silencioso que rasga a floresta ao meio sem fazer alarde.
Envolver é se atirar na arapuca por estar cansado de voar sozinho. Comover é
aceitar dar um passo em falso num poço verdadeiro de dúvidas. Na próxima vez
que eu me envolver, vou respirar fundo e olhar para trás como quem não quer
nada. Será que vai dar certo?
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