“Oh Deus, por que me abandonastes?”, frase dita por Jesus crucificado em seus últimos minutos de vida, significa a declaração de que ele havia perdido tudo na vida, família, ensinamentos, amigos e discípulos, esperança, sentido, memória, corpo, saúde, identidade, dons de fazer milagres, tal qual nos acontece quando passamos pela noite escura da alma e somos lançados na sarjeta do nada, desalmados de pertencimento traduzido como desamor e descrentes da existência divina, mas orgulhosos demais para render. Apenas duas realidades ainda permaneciam com Jesus até aquele momento. A existência de Deus, com quem ele conversava e a quem ele se referia como seu Pai e a vontade de pertencer, para não ser traduzida somente como abandono. Na condição de humanos e mortais, somos capazes de chegar até a este ponto de desapego, a noite escura da alma, onde a nudez existencial nos joga desfalecidos no chão da insignificância total. É somente aos Santos e Iluminados que é dada a capacidade de aceitar perder-se da equação e permitir que somente Deus ocupe a realidade última. Foi quando Jesus disse: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu Espírito”. Render-se a esta verdade nos abre os portais do céu e da Consciência Suprema.
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