TREINAMENTO (1)

Fomos treinados em nossa sociedade e família a lidar com as emoções de forma intelectual, mental, lógica. Quando a sensibilidade aumenta, aumentam os dramas da interpretação do que sentimos. Há um distanciamento do coração emocional que prefere o silêncio, o retiro, a solitude, pois não existe nem este aprendizado nem esta prática de voltar sempre para o interior sem interpretar os sentimentos. Ficar consigo sem lamentar, sem autopiedade, sem dramatizar é ficar com o reino do coração, é aproximar-se do equilíbrio emocional, é reduzir a intensidade dos conflitos pessoais e reaprender a ser honesto com a própria verdade, seja ela qual for.

FUTURA COLHEITA

Caia na realidade. Coloque os pés no chão. Tudo o que você fizer hoje vai afetar o seu amanhã, em todos os aspectos da vida. Isto acontece porque sua vida é uma só, você estará presente em seu futuro e pagará o preço das consequências de todos os seus atos e de suas escolhas. Seja por imaturidade, inconsciência ou força das circunstâncias, você colherá não só os frutos do que plantou, mas também os frutos das escolhas de quem convive intimamente consigo ou de quem você apoiou. Você sofrerá a seca se deixar de regar. Você colherá o vento se ficar apenas olhando para o horizonte vazio. Você terá mais do mesmo se não ousar em criatividade e diversificação de projetos de vida. Ter os pés no chão evita erros e sofrimento. Você não é a sua esperança. Você é o resultado de suas ações.

LONGE DEMAIS

A sensação de se ter ido longe demais vem com uma pitada de medo e com um leve raspão de consciência sobre o tamanho de nossa ambição pessoal. Nem por isso surge a consciência de que se fez algo errado ou ofensivo. Quem não respeita os limites dos outros não tem cacife para olhar para si mesmo, a não ser com um olhar magnânimo e superior. Quem não respeita as diferenças, vai pautar o próprio discurso denunciando as diferenças que não gosta e não aceita. Ter ido longe demais serviu apenas para rever as estratégias e continuar com seus arroubos e ultrajes, enquanto recolhe os dividendos e corrompe os que se dispõem a ajudá-lo. Quem vai longe demais e não é punido, um dia vai rasgar os direitos e a dignidade de alguém. Ou de muitos. Sem saber o que aconteceu com a própria.

MAIS PRUDÊNCIA

Prudência significa fazer as coisas como manda o figurino ou o manual. Significa compreender que ainda não é a melhor hora para oferecermos o que temos em nosso estoque de recursos. Significa dar tempo para diminuir resistências, riscos e fracassos. Prudência é a qualidade de dar linha ao peixe grande antes de recolhê-lo, afinal ele já está fisgado, mas pode escapar. A prudência é necessária para o inimigo ser revelado, para a informação que faltava chegar ao nosso banco de dados. Nem toda preparação significa prudência, já que a preparação indica abraçar um posicionamento fixo e se afastar do que esteja realmente sendo dito pelos outros. Prudência é estar disponível para novas conexões desafiadoras.

ALEGRIA ARTIFICIAL

O palhaço finge estar contente, mas vive de forma triste e solitária. O piadista é um vampiro disfarçado que só encontra alegria proliferando preconceitos e estereótipos de algumas minorias. A risada nervosa nada mais é do que uma máscara para esconder timidez e insegurança. O bêbado alegre numa mesa de bar nada mais é do que um zorro saci que tomou uma dose excessiva de raios gama e sonha em ser o super-homem de toda mulher bonita. A alegria artificial está em toda parte e pode nos ajudar a esquecer a realidade séria que criamos.

TRATADO SOBRE OS CÍNICOS

Pessoas cínicas enganam até os amigos. O cinismo é o filho da falsidade e o neto da maldade camuflada. Os cínicos procuram sempre o ponto fraco dos amigos e exageram no culto ao ego de quem lhes interessa manipular. Fazem-se de alegres e bondosos, algumas vezes de vítimas, mas provocam os amigos dos amigos para separá-los, de olho também no ponto fraco deles. O cinismo é um traço irreparável e torto de personalidade, desenhado para compensar a solidão e a miséria emocional em que vivem os cínicos, para mascarar a própria incapacidade de cultivar um relacionamento pessoal franco e transparente. Eles não entendem de dignidade, por isso padecem ocultamente quando estão sós, e sentem atração por tudo o que é oculto. Em grupos os cínicos se tornam codependentes.

O BALÃO

A verdade, ao ser dita, incomoda tanto quem a diz quanto quem a ouve, mais por ser apenas um ponto de vista e menos por ser algo passível de mudança e sujeito à dissolução. Não existe verdade, existe uma narrativa contada como exercício de alguma forma de poder. O que se passou foi uma interação entre algumas pessoas com interesses opostos que não foram negociados pelo medo de respostas desagradáveis. Estou mencionando a verdade como algo contrário à mentira ou à omissão. Verdade mesmo é lei, vale em qualquer lugar, podendo ou não ser explicada pela ciência. O resto é um balão que, ao ser inflado por muito tempo, acaba explodindo na cara ou na teoria de alguém.

SILENCIADOR

O silêncio da distância é um monstro com asas de seda e coração gelado. Ele tem chifres cortantes e perfurantes que arrancam vísceras em poucos atos. O silêncio não tem memória das coisas boas, mas repousa na cama das reminiscências maldosas e sonha com vômitos injustos de teimosia recalcitrante. Ele é uma espada de covardia ou indiferença, tanto faz, desde que corte. Ele é um barranco pronto para empurrar alguém no abismo da preocupação. O silêncio da distância voa em céu nublado e em noites chuvosas do Ser. Ele não se dá conta do rastro que o tempo deixa, ou das dores que o vazio grita já sem voz. O silêncio da distância é o manifesto do não sentir. Ele é um silenciador de alegrias.

NATURALIDADE

Ser positivo naturalmente não é a mesma coisa que tapar o sol com a peneira e olhar apenas o lado pequeno e positivo de um contexto. Quem é positivo por natureza aprendeu a lidar com a realidade e faz do limão uma limonada. O falso positivista joga o limão fora e oferece água açucarada como se fosse uma limonada imaginária. O falso positivista foge da realidade como o diabo foge da cruz. Tem muito de falso positivismo no mercado, nos governos ditatoriais e nos relacionamentos por interesse econômico. Ser positivo não é uma decisão, é uma naturalidade, é um modo de vida. Ser positivo não é negar a realidade, é transcendê-la sem retoques.

ESPAÇOS VAZIOS

Sentir-se vazio é não ter conteúdo feliz.

Hoje convido os leitores a refletirem sobre como eles podem preencher os espaços vazios em sua vida.

VIDA LOKA

Há pessoas que parecem aproveitar a vida melhor do que nós com festas, viagens internacionais, aventuras, relacionamentos interessantes e obtenção de recursos valiosos. Elas nos dão a sensação de falta de contatos e de conexões em nossa vida, nos fazem sentir como a folha que caiu da árvore ou o sentimento de sermos um zero à esquerda. Na verdade, não sabemos como a folha se sente ao cair da árvore, se ela se sente livre e independente para voar com ajuda do vento, rumo a novas viagens e aventuras. Os outros podem estar curtindo coisas que nada significam para nós, ou aprendendo agora algo que já sabemos há décadas. Os outros podem até sentir inveja de nós embora não o saibamos. O fato é que, aproveitando bem ou não a vida deles, somos nós que escolhemos quem vai servir de referencial para nossas conquistas de bem viver.

LADRÃO DE CHAPÉU

“Fazer bonito com o chapéu dos outros” é uma expressão popular de plágio ou pirataria comportamental, própria de pessoas aproveitadoras ou inseguras ou sem nenhuma criatividade. Quem foi desbancado da autoria, provavelmente não soube “vender seu peixe” ou se deixou copiar por ingenuidade. Houve alguma mentira com o uso de identidade falsa, na tentativa de furtar a energia de outras pessoas. Com chapéu ou sem chapéu, cada um sabe o quanto quer se arriscar a ser descoberto em público e passar vergonha diante de amigos ou companheiros de trabalho. O ladrão de chapéu não vai poder assumir a autoria por muito tempo, pois quando for solicitado a repetir a façanha, vai ter que “sair pelo ladrão”.

O SÁBIO E O IGNORANTE

O ignorante interrompe a conversa e o raciocínio dos outros, pois tem medo de que a própria ignorância seja abertamente revelada. Ele não sabe usar o cérebro, apenas a língua. Ele defende apenas um ponto de vista, imóvel como um poste de luz.

O sábio transforma o poste de luz em árvores com raízes profundas que  se adaptam diante das mudanças climáticas. Ele permite a convivência pacífica de dezenas de pontos de vista, sobre o mesmo assunto, e tal variedade de fontes de entendimento servem para aumentar sua sabedoria. Quanto mais pontos de vista diferentes nós acolhemos, mais sábios tornamos e mais recursos acumulamos.

UM BOM COMEÇO

A energia do entusiasmo é um bom começo para se cumprir uma tarefa. Ela quebra o negativismo, reduz a possível dor física ou mental e afasta as distrações antes que o objetivo se torne inalcançável ou difícil. O entusiasmo é uma ferramenta psíquica que lubrifica os músculos e a vontade. Se ninguém vai fazer a sua parte, é melhor que você a faça e de maneira correta, divertida, desafiadora. O bom humor é um grande aliado do entusiasmo. Juntos eles recarregam a sua bateria para enfrentar qualquer trabalho. Coloque mais entusiasmo no seu dia de hoje. Teima não!

HÁBITOS

O caminho que você trilha na vida tem mais a ver com o que precisa aprender do que com o que você deseja obter. Por isso se diz que ninguém consegue ter tudo ao mesmo tempo, ou seja, saúde-dinheiro-felicidade no amor. Você nem sempre presta atenção nas lições, pois o fato e as percepções do fato lhe distraem muito. Sem perceber, vai cedendo às limitações pessoais e acaba se expressando em hábitos nem sempre saudáveis.Somente aqueles que se conhecem na unicidade saberão se expressar de forma original na vida. Somente aqueles que se conhecem bem conseguem traçar um caminho todo seu.

TEMPERATURA E FORNO

Toda emoção que você expressa, chega a cada pessoa com uma temperatura diferente. A mesma raiva pode chegar lá com dez ou noventa graus, dependendo de como o recipiente esteja. Com dez graus se ouve, se atende, se ignora, se contemporiza, se aceita. Com noventa graus se reage, se enfurece, se ofende, se grita, se atraca. Embora não meçamos, tudo está sendo quantificado silenciosa e imperceptivelmente pelos outros. Somos catalisadores, antenas, crus, cozidos e nossas palavras são como bifes bem ou mal passados. Tem gente fogosa e tem gente fria como um presunto. Tem gente apimentada e tem gente doce. Cada pessoa é como um prato de refeição a ser servida para o mundo. Que prato você é?

EM QUAL ME ENCAIXO?

Tem gente que acredita saber o que está falando e o faz com impacto sobre os demais. Tem gente que transmite segurança no que diz, mesmo que aquele pensamento não seja dele. Tem gente que diz algo valioso, mas o joga em terreno pedregoso onde a inteligência não faz morada. Tem gente que diz uma coisa e faz outra bem diferente. Tem gente que apenas repete o que leu, sem meditar e sem acrescentar algo seu. Tem gente que não diz com palavras, mas o diz com linguagem corporal. Tem gente que não sabe nem entende do assunto, mas emite opinião assim mesmo. Tem gente que gostaria de ter dito “sim” e disse “não” para se proteger dos outros. Tem gente que fala sem parar, até depois que fomos embora. Como todos continuam com a necessidade de dominar as palavras e a conversa, o mais garantido mesmo seria começar pelo aprendizado da gramática e o auxílio de um bom dicionário.

O QUE FAZER

Tem certas situações conflituosas que exigem uma pequena fresta, ou abertura de oportunidade, para ser trabalhada entre duas pessoas que se desentenderam seriamente. Perder esta janela pode ser bom ou mau. Se for algo que desequilibre a paz do outro, é melhor que se deixe passar por enquanto até que se encontre o momento certo e as palavras certas para comunicá-lo. Se for algo negociável, é melhor aproveitar a abertura enquanto houver tempo, pois se for fechada, pode não se abrir mais. O tempo ajuda as pessoas a reciclar pensamentos e emoções, ajuda a absorver acontecimentos indesejados, ajuda a fornecer outras percepções do mesmo fato. Este mesmo tempo aprofunda memórias de frustração, transforma medo em alucinação e joga adubo no território da separação. É preciso ter sabedoria para atuar no tempo certo.

LIÇÕES DE VIDA

Certa vez vi um mendigo na cidade de Boston fingindo falar num telefone imaginário. Ao me aproximar dele com curiosidade, eu o escutei dizendo “...e saber que algumas pessoas tem dois ou três celulares e não têm para quem ligar”. Em outro fato, um mendigo feliz catava o lixo das ruas de forma sorridente. Quando um radialista curioso dele se aproximou para saber a razão de tal alegria, o escutou cantando “...O sangue de Jesus nunca me faltou, nunca me faltou, de uma coisa eu sei, ele sempre me amou”. Outro caso verdadeiro que virou filme mostrava um mendigo justificando porque matou um playboy que zoava e roubou dele seu carrinho de supermercado com quinquilharias. “Eu não tenho uma casa para morar, não tenho nome, não tenho família nem emprego, não tenho dinheiro para comprar comida, eu não tenho nada do que ele tem e este moleque veio roubar a única coisa que eu tenho”. Coisas para pensar.

ACOMODADOS

É mais fácil olhar para fora e culpar os outros do que olhar para si e identificar o que se passa consigo. A gente quer sempre o caminho mais curto. Pessoas acomodadas tem esta tendência. Elas não entendem o posicionamento ou a escolha que fizeram, ao colocar todo o foco de atenção e as energias no relacionamento, em detrimento das necessidades pessoais. Desta forma elas acabam sentindo-se abusadas e exploradas, sem voz ativa, desistindo dos próprios sonhos e deixando tudo para depois. Não existe crescimento pessoal sem se confrontar nos planos mental e emocional.

ALUGUEL

Já alugaram barriga para bebês de outros pais. Já trocaram membros de duas famílias, por um mês, no reality show. Já ofereceram marido-faz tudo para consertar o que o verdadeiro marido não dá conta. Já hackearam sites de adultério revelando o grau altíssimo de traição conjugal no mundo contemporâneo. Já criaram as festas de pijamas onde os clientes alugam alguém que lhe dê apenas carinho e lhe penteie os cabelos como a mãe fazia na infância. Agora estão alugando mães cozinheiras para fazer aquela comidinha caseira, aquela torta de chocolate deliciosa, aquelas delícias culinárias que as mães mais jovens nunca aprenderam a cozinhar com arte. O que mais falta para ser alugado?

ABEL E CAIM

Houve uma época em que brincávamos na infância com revolver plástico, enquanto nossos pais assistiam a um bom filme de bang-bang ou faroeste. Houve outra época em que uma parcela da população obrigou a maioria a pensar de forma politicamente correta e baniram os revólveres de brinquedo. Hoje assistimos a geração que cresceu matando em vídeo games sair por aí com armas de verdade. A realidade mudou. As leis mudaram. Os valores mudaram. O núcleo familiar e as escolas mudaram. Só não mudou aquela sementinha de Caim que existe dentro de cada um de nós.

BANANAS

Se existe uma fruta barata, acessível e fácil de comer em qualquer lugar do planeta é a banana. Ela é um símbolo de simplicidade, de algo natural e comum, algo ordinário. Se na sua vida nada está acontecendo de extraordinário, se faltam grandes projetos, se Deus não está atendendo suas preces, se a linha do horizonte sumiu da paisagem, se ninguém atendeu suas necessidades ou desejos, se você ainda não ganhou na loteria, só há uma coisa a fazer. Coma as suas bananas!!!

OPINIÃO

Às vezes precisamos nos perguntar se vale a pena forçar alguém a entender e aceitar nosso ponto de vista. Estamos querendo impor um transplante de olhos e de cérebro sem cirurgia. Estamos queimando energia psíquica, contrariando músculos, descarregando adrenalina no próprio corpo. Estamos perdendo a oportunidade de aceitar o outro nas suas limitações ou na sua individualidade preciosa. Nós não somos robôs para uniformizar opiniões, a não ser que vivamos sob um governo ditatorial. Em matemática, +1-1=0. Na comunicação também. Tirar a opinião do outro e tentar adicionar a nossa vai dar em nada. Cada unidade sabe com quem se agrupar.

O LIXÃO

A pior estratégia para um relacionamento é evitar tocar no assunto que os incomoda. Fingir que está tudo bem é premiar o distanciamento, a solidão, as construções mentais ilusórias, a infantilidade emocional dos adultos; é perder a capacidade de enxergar o real tamanho dos fatos. Tem muita gente com mania de transformar pulga em elefante, mentalizando textos de tragédia grega ou escondendo o elefante na geladeira. Somente a conexão transparente e honesta tira o lixo mental sem dar tempo de transformá-lo em lixo emocional. A conexão só acontece quando as partes conflituosas criam um espaço seguro para cada um deles ser quem eles são. Assim, cada um volta a ser maior do que a emoção que sentiu.

EXERCÍCIO DE BEM ESTAR

Vamos praticar juntos um exercício leve de bem estar. Vamos focar agora em coisas bobas, coisas que nos fazem rir de nossas tonguices, em fatos onde pagamos mico ou onde atropelamos a fala importante de alguém com nosso “fora” precipitado. Vamos lembrar de uma paquera constrangedora, sem contexto e sem intenção, rapidamente negada. Vamos lembrar de uma mentirinha que contamos de pés juntos e fomos desmascarados em público por uma criança. Vamos lembrar quando nos esquecemos do nome de uma pessoa que lembrou o nosso e onde nos conheceu. Quem sabe lembraremos de quando comemos sushi pela primeira vez e engasgamos com wasabi. Vale qualquer memória. Vale qualquer sorriso. Vamos lá...

ESTA FOI NA MOSCA

Depois de desenvolver todos os tipos de bombas de destruição, das bombas de pólvora à bomba atômica, a humanidade se superou ao criar a bomba humana, inspirada tardiamente nos kamikazes japoneses. ISIS é o nome dela. Ela se parece com um grupo de terroristas fanáticos da pré-história brincando de vídeo game com o mundo contemporâneo. Ela é fria e calculista como os capitalistas e políticos do mundo inteiro. Ela ilude aos jovens com facilidade ao lhe oferecerem poder e uma vida rica no futuro Estado Islâmico, transformando-os em armas desumanizadas. Ela se supera cada vez mais em atos de crueldade e assombra a todos pela força da maldade. Robert Fisk foi o primeiro jornalista internacional a desvendar esta nova arma. O nome da bomba é Humanidade.

DECISÃO

Ou uma coisa ou a outra, os dois não podem ao mesmo tempo. Ouvimos isto milhares de vezes na infância, sem sabermos que estavam nos preparando para a vida futura.

Hoje podemos escolher o descanso sem dinheiro para gastar ou o trabalho bem remunerado sem tempo para descansar. Podemos escolher a vida saudável e controlada ou a comida gordurosa de chupar os dedos. Estamos sempre escolhendo algo em detrimento de outras possibilidades. Quanto maior for nossa imaturidade, maiores serão nossa oscilação e insegurança na hora de ficar com a opção que mais nos seduz. Quem sabe o que precisa, acaba se dando bem na própria pele.

PEDESTAL

Em lares onde não se cultivam a gentileza, a independência e o respeito, é muito comum gerar membros competitivos por atenção e vantagens sobre os demais. O ambiente familiar constrói personalidades, incentiva a preguiça ou o perfeccionismo, reconhece erros como oportunidades ou ensina o julgamento precipitado das ações dos outros.

O lar é uma escola técnica de cursos de comportamento. Se a estima for deixada de lado na aprendizagem, os danos causados em casa serão projetados na sociedade. Se a estima for exagerada, o dano causado erguerá as bases para a manifestação de um gigantesco egoísmo. Cada comentário dos pais sobre os filhos, na presença deles, conta. E conta muito.

CRER

A crença nas pessoas só se sustenta enquanto depositamos nelas o nosso voto de confiança. A crença nos deuses se sustenta com menos exigências; mesmo distante de resultados positivos em sua vida ela ainda se apoia nos bons resultados relatados por outras pessoas. A crença na crença dos outros vira abertura, cumplicidade, esperança, amizade, solidariedade, modo de vida. A crença que brota por dentro quer apenas se proteger das maldades do mundo. Como o bem e o mal coexistem em todas as pessoas, a crença delas não suporta tanto esclarecimento e preferem navegar nas brumas do inexplicável. Crer é abrir-se ao mistério, ser solidário para com o mistério. Sim, o mistério precisa de você.

O REVERSO

A mudança climática está revertendo a geografia. A música brasileira dos descomprometidos está revertendo a ordem moral dos subúrbios e das elites. A igreja está revertendo a omissão política pelo engajamento partidário. O reverso está em alta como se o mundo estivesse sendo passado a limpo para desconstruir o passado que esta humanidade criou de forma tão assustadora e míope.

A humanidade saiu do iluminismo do dia e atravessa o por do sol rumo à convivência pacífica com as trevas de si mesma. O movimento atual de migração mundial fotografa esta reversão, este deslocamento provocado pelas desigualdades econômicas em nome exclusivo do direito de estar vivo. Será uma noite agitada, um exercício crucial de desapegos, uma guerra de reajustamentos sociais, um reencontro com a verdade indesejada e negada por tantos séculos.

O REI E O PAVÃO

Ao fazer alarde, mostrando muita arma e pouca munição, ou muito trovão e pouca chuva, a pessoa se expões e se desgasta em público, oferecendo um prato cheio para ser criticada e julgada pelos outros. Enquanto o cão late, a caravana passa. Mostrar-se para impressionar aos outros com fumaça não sustenta a fogueira, apenas a brasa do exibicionismo. É mais lucrativo mostrar apenas o conquistado. É mais produtivo manter-se quieto e pacífico ao dedicar-se a um projeto pessoal para não despertar bandeiras de oposição nem de inveja nos outros. O silêncio é amigo do Rei. Servir prato cru é complexo de pavão.

DE HOMEM PARA HOMEM

O pai não sabe o filho que tem. O filho não sabe o pai que tem. O filho não sabe que o pai também passou pelas dificuldades existenciais que ele está passando. O pai não sabe que o filho também está sofrendo a distância entre eles. O pai não sabe que seu filho já é um homem e insiste em vê-lo como imaturo. O filho ainda não compreendeu o que quer dizer ser homem. O pai não sabe que sua falta de firmeza está afetando o filho. Por sua vez, o filho não percebe que suas exigências não encontram eco em seu pai justamente por confrontá-lo em aspectos do pai que desconhece. O pai não aprendeu a ser pai e continua agindo como o filho que sempre foi. Do outro lado, o filho só sabe ser filho e nem imagina o peso de ser pai. O pai tem medo do que o mundo possa ensinar de errado ao seu filho. O filho prefere aprender com o mundo, pois julga as atitudes do pai como erradas. Entre pai e filho existe sempre uma página em branco, o esqueleto de um diálogo que nunca aconteceu, um abraço que nunca foi pedido nem dado na hora e na medida certa. A falta de comunicação transparente entre pai e filho, de homem para homem, em muitas famílias, já virou um abismo difícil de ser curado com a ponte do resgate emocional. No céu da boca deles brilha uma estrela, emitindo a mensagem esperançosa de que alguém tem que dar o primeiro passo.

SUGESTÕES SUTIS

Ao ouvirmos as palavras que são ditas por outros, organizamos o pensamento e os conectamos com experiências antigas para que elas nos façam sentido individualmente. Claro que nossos recortes culturais irão dar diferentes significados para a mesma palavra, deixando o outro com  a certeza de que o entendemos perfeitamente. No entanto, o que não foi dito claramente, mas permeou a fala com intenções e subterfúgios, traz em si o corpo leve das sutilezas e nem sempre provoca respostas imediatas. Toda conversa repleta de sutilezas e inuendos parece um jogo silencioso de xadrez entre o dito e o não dito.

ENGANO ESPIRITUAL

A humanidade não melhorou nem com os ensinamentos dos seres mais evoluídos, que são raros, nem com o acúmulo de experiências através dos milênios. Tudo o que havia de defeito há 3 mil anos atrás, e precisava ser eliminado, continua existindo até hoje. Fome, miséria, tiranias, assassinatos, agressão a crianças indefesas, escravidão, destruição do planeta, medo coletivo, podres poderes, doenças incuráveis, egoísmo exacerbado, matança cruel de animais, guerras, culto à personalidade, ópio religioso, desigualdades sociais, vícios que matam, tudo isto e muito mais continua ignorando a lei da evolução e do amor. A população mundial continua aumentando descontroladamente. Onde há caos, há espaço para o surgimento de uma ordem instituída que controle a todos. Como o controle se dá mais pelo exercício do poder do que pela educação e consciência, o descompasso abismal entre amor e egoísmo continua ditando os rumos de nossa espécie. Na década de 80 com a queda do muro de Berlim estávamos muito mais perto de um salto quântico de evolução de consciência global do que hoje em 2015. Pelo jeito que as coisas andam, até a comunidade espiritual se enganou ao apostar tanto na humanidade.

A PEDRA E A ÁGUA

Vivemos sob o tripé da pedra quando não queremos crescer. Ele consiste de atitudes voltadas para o comodismo, para a busca de estabilidade e de algum planejamento que nos dê uma falsa sensação de segurança e de poder. O medo do futuro incerto sustenta este posicionamento rígido, este deitar-se na areia e tomar banho de sol. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

Vivemos sob o tripé da água quando queremos crescer. Ele se faz pela inquietação dos olhos que ousa enxergar outras realidades, pelo exercício da instabilidade que faz emergir várias flutuações de acontecimentos e pelo recurso do pragmatismo que vai apagando o fogo conforme ele aparece. O desapego sustenta este posicionamento livre, este nadar no mar das oportunidades. Quem semeia vento, colhe tempestade.

O primeiro tripé de atitudes gera egoísmo e satisfação de vontades passageiras. O segundo, gera o compartilhamento de oportunidades e possibilidades de crescimento real. O primeiro tripé vive da mesma percepção das coisas, sonhando com um mundo diferente e ideal que nunca chega. O segundo, abre-se para o novo e abraça as novas oportunidades que se despontam em todos os lugares.

ENTRE DUAS REALIDADES QUAISQUER

Mudança nem sempre significa oportunidade para todos. Há casos em que a mudança favorece a poucos interessados, em prejuízo de muitos que permanecem alheios a implementação de algo que não pediram. Há casos em que a oportunidade apresentada é mais simbólica do que prática e não empolga na relação entre custo e benefício. As mudanças implicam em movimentação logística e dependente. As oportunidades implicam em movimentação de recursos internos. Há que se tomar muito cuidado quando pedir por mudanças e quando procurar por oportunidades.

TAÇA VAZIA

O que você fez hoje, de manhã até a noite, e que merece lugar na sala da memória pode ser o medidor de seus valores e de seu trato com a felicidade. Quando o tempo se torna curto demais e quando todas as energias estão sendo canalizadas apenas para o trabalho, é aviso claro de que está faltando amor em suas relações mais significativas ou em seu mundo interior. Você pode até estar trabalhando na profissão que mais gosta, mas se está exagerando nas horas é sinal de que tem amor de menos na sua taça. Os excessos do mundo exterior jamais preencherão o vazio interior. São outros conteúdos.

É ASSIM

Sim, um dia você fez diferença na vida de alguém; e daí? Será que fez mesmo ou foi este alguém que se permitiu mudar, comandando o próprio caminho? Um dia você pensa que fez diferença na vida de alguém e este alguém lhe descarta como um objeto não reciclável, pois a vida continua com você ou sem você; e daí? Um dia você esquece alguém que ajudou e, sem saber, este alguém está grato até os ossos por sua salvadora e inesquecível mãozinha; e daí? Um dia você acorda, olha no espelho, vê que o tempo passou e que ainda não fez diferença na própria vida. Escova os dentes, penteia os cabelos, olha novamente no espelho e diz a si mesmo: e daí?

SINAL DE ATENÇÃO

Se o seu relacionamento principal está livre de conflitos, significa que uma das partes anda escondendo alguma opinião para se proteger ou para proteger o parceiro. Conflitos fazem parte de qualquer relacionamento, são indicadores da sobrevivência da identidade de cada um, ou seja, devemos repensar esta tal coisa de anulação. Os conflitos se destacam mais quando uma das partes declara emocionalmente suas necessidades e exigências dentro do relacionamento, querendo ter voz. Com menos proporção, eles também indicam a preocupação e o cuidado com o futuro da estrutura familiar. No final das contas, conflitos funcionam como um sinal de alerta para o imprevisível de nossos dias.

NÃO ADIANTA CORRER

Não adianta ter pressa em solucionar um conflito. Se ele existe é porque possui vários elementos a serem compreendidos ou assimilados por uma das partes. Um antigo ditado diz que a pressa é inimiga da perfeição, mas não diz que ela é amiga da solução. No caso de conflitos, a pressa não atende as partes satisfatoriamente, deixando fatos ocultos e portas fechadas, correndo o risco de um dia retornarem com mais força e com mágoas profundas. Ao dar tempo de maturar um conflito, estamos discutindo alternativas que favoreçam todas as partes envolvidas. Este é o grande aprendizado de cada conflito.